quarta-feira, agosto 20

Histórias, Poemas e Quadras

A associação dos Amigos do Concelho de Avis realizou já este ano uns jogos florais.
o texto abaixo transcrito é o vencedor do conto, no site podemos encontrar os textos premiados

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Do Fundo da Terra

Era a terra. Uma terra bruta e virgem a parir pedras por todos os lados. Uma terra pequena, entre dois riachos sinuosos, que morria em bico na magia do coaxar das rãs em tardes quentes de Verão. Era a terra comprada, a terra conquistada com suor e mágoa. Uma terra ruim.
Fortunato comprou a terra e fez a casa. Pedra sobre pedra, sonho sobre sonho, mulher, filhos, vida. Torná-la fecunda; fazer brotar daquele chão uma seiva que lhe provasse ter valido a pena ter vindo de tão longe para sonhar...
Depois era a casa. Aquela que tinha sido possível. A cozinha, a casa de fora com os três degraus de laje, os quartos de dormir, a adega, o forno, a eira e o sonho. E a água; a água que foi brotando milagrosamente das entranhas das pedras no fundo dos poços. A água que não faltaria mais, nem nos anos de seca, e que chegaria para todas as famílias do lugar.
Com o tempo vieram as árvores; as oliveiras à volta, as figueiras de Santo António ao fundo, na margem da ribeira, uma carreira de maçã-espelho encostada à estrada e que era um gosto ver, uma pereira bojarda que se fez tão grande que quase chegava ao céu, três ginjeiras de folha encostadas ao poço de baixo, mais dois limoeiros e uma ameixeira roxa. Do lado de baixo, ao fundo, na extrema com as terras do Salvador da Maia, duas nogueiras e uma pereira de pé-curto que iam morrer na primeira carreira de vinha que Fortunato meteu, para experiência. Aquilo ia dar! E no ano a seguir encheu metade do monte de cepas de vinho e de mesa, e a terra deixou de parir pedras e desolação.
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PAULO JORGE PIMENTEL RAMOS CÂMARA


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