O Joaquim Maria, é angolano, é assim mestiço, não tem uma tez negra, mas também não é clara...
Lembra-me quando andava na primária e íamos para o jardim da meia laranja, jogar ao berlinde e à santinha, fazíamos fila para jogar com ele...
Era na altura já homem adulto, mas ainda assim predisponha-se a jogar contra nós, e enquanto jogávamos, éramos quase obrigados a estudar, pois ele enchia-nos de perguntas...
- Quem foi o primeiro rei de Portugal.
- -Em que serra nasce o Rio tal., onde desagua, os afluentes....
- Tabuadas....
- Formas verbais....Era engraçado, e entre um e outro jogo, lá íamos estudando com perguntas de um ‘parvo’ conforme as pessoas, cegas pela estupidez mas ditas mais inteligentes, nos diziam.... os mais sábios....
-Ah!!! isso não façam caso que o preto é parvo!
(Podem parecer duras, as palavras, mas eram assim ditas a crianças, rondávamos os 8 a 10 anos)
Na altura não percebia muito bem, mas hoje em dia compreendo que era uma forma de promover a igualdade entre os homens.
(Eu hoje rio-me pois quem falava assim deve ser só virtude.. sem um defeito.
É pena... Pois eu, são mais os defeitos que tenho que as virtudes, assim como toda e qualquer pessoa, tenho coisas boas e más.)
Mas o ‘Quim’ conforme queria que o tratássemos, lá estava, ‘parvo’ pronto para as nossas perguntas mais estranhas, e predisposto a escutar-nos.
Coisa que os mais sábios nos informavam logo que não tinham tempo....
Quando não sabia a resposta a algo dizia-nos logo que não sabia, e aconselhava-nos a ir junto de nossa professora indagar, ou pesquisar na biblioteca , para depois lhe explicarmos...
Aguçava assim em nós a curiosidade de explorar, de investigar...
Foi hoje ao ver o ‘Quim’, falando tão fugaz com os turistas de Loures que me recordei dessa minha infância.
Predisponha-se ele a um grupo de transeuntes que passava, falar, de lendas, de histórias, de casos, enfim animava quem estava.
Quem o ouvia, tinha-o em atenção, olhava e escutava atentamente.... Se o percebia não sei... Mas que ele estava disposto a partilhar o que sabe de Avis estava.
Contava coisas antigas, falava de monumentos, da degradação dos mesmos...
Falava da Avis que temos, e não da que os panfletos mostram.
Seja como for é o Quim, uma pessoa que partilha esta sociedade em que habitamos.
Quem diz o que lhe vai na alma, e só por isso o que diz está certo, porque pensa por ele, não precise que 10 pensem assim para ele também o fazer.
Sem comentários:
Enviar um comentário